Empresas somam tecnologias que já estão no portfólio a novidades e oferecem opções a quem aposta no nicho de orgânicos e veganos
“O meio urbano rapidamente está se tornando um ambiente cada vez mais complexo e isso causa um aumento na ansiedade, estresse e sobrecarga sobre os indivíduos. Os níveis de estresse das gerações mais jovens estão cada vez mais altos e isso acaba afetando a qualidade de vida dessas populações. A busca pela natureza acaba sendo uma válvula de escape de toda essa pressão e uma alternativa de vida saudável a partir de cuidados com o corpo e a mente. A preservação ambiental consciente do indivíduo e a alimentação tem um papel importante nesse contexto”. É assim que pensa Leonardo Cerqueira Lima, especialista da área de marketing da Merck.
Segundo ele, no mercado de cosméticos isso tudo se traduz no uso maior de ingredientes naturais ou de origem natural em fórmulas cada vez mais simples. “O crescimento de ingredientes alimentícios em cosméticos acompanha essa tendência e faz com que as ‘modas’ nutricionais também entrem no jogo, demonstrando o forte crescimento dos cosméticos veganos”, afirma.
O executivo acredita que para um futuro próximo o consumidor e a indústria tendem a se preocupar ainda mais com toda a cadeia produtiva que deve ser sustentável do início ao fim. Segundo ele, a Merck é pioneira no desenvolvimento de ingredientes naturais e veganos para indústria cosmética. “A lista de opções é extremamente grande para ser abordada por completo, mas abrange desde ativos para tratamento até pigmentos que proporcionam efeitos diferenciados de cor e brilho”, afirma.
Lima destaca o ingrediente vegano RonaCare RenouMer, que é um ativo de origem natural. Ele explica que é produzido a partir do citoplasma de algas marinhas, aproveitando todo o “seu poder hidratante”, que nutre o colágeno da pele aumentando a suavidade e a elasticidade. “É um destaque também porque o cultivo dessas algas é feito de forma sustentável, favorecendo toda a biodiversidade local na costa da Bretanha, na França”.
O produto está no mercado há dois anos aproximadamente e, segundo Lima, tem trazido ótimos benefícios para indústria cosmética e para o consumidor em geral. O executivo ressalta que a simplicidade é um fator importante tanto no desenvolvimento de novos produtos quanto na busca pela melhor qualidade de vida. “Um único ativo é capaz de proporcionar alta eficácia no tratamento da pele em diversos aspectos – hidratação, redução de rugas, suporte ao colágeno –, além de ser sustentável e ético com o meio ambiente”, diz.
Lima explica que para a indústria o RonaCare RenouMer é extremamente fácil de se trabalhar em qualquer tipo de formulação. “Proporciona uma infinidade de opções para posicionamento de claims e marketing no produto final, além de ter todo o respaldo das certificações internacionais”, completa.
A Merck também tem novidades. Neste ano, a empresa pretende lançar seis novos pigmentos veganos e um ativo natural, além de uma linha de bioativos. “Fora os produtos, vamos lançar novos conceitos para tratamento do couro cabeludo, repelente de insetos e cuidados com a pele, entre outros”, revela Lima.
Adaptogênicos – O apelo vegano tem aumentado seu espaço nos lançamentos de cosméticos, assim como os claims free-from. “Recentemente vimos os ingredientes ‘alimentícios’ ocuparem os cosméticos. Produtos com ingredientes oriundos de frutas, legumes e verduras já são comuns nas prateleiras”, diz Marina Fernandes, diretora de marketing da Dinaco.
Segundo ela, uma tendência que deve ganhar força nos próximos anos, seguindo a gastronomia e alinhada ao mercado de Alimentos & Bebidas é a de adaptogênicos para beleza. Produtos naturais com propriedades anti-estresse cada vez mais presentes em alimentos e suplementos devem aparecer também nos cosméticos. Exemplos são curcuma e aloe vera.
Marina destaca a Novachem, empresa argentina presente em mais de 20 países, distribuída no Brasil pela Dinaco, que conta com 10 anos de experiência em pesquisa e desenvolvimento de princípios ativos de origem natural. “Conta com um portfólio extenso de ativos naturais e veganos, todos livres de parabenos, hipoalergênicos, oftalmológica e dermatologicamente testados e sem estudos feitos em animais – cruelty free”.
A Dinaco tem diversos produtos orgânicos certificados e veganos. Um destaque, segundo Marina, é a linha Neossance, da Aprinnova, cujos produtos Squalane e Hemisqualane são frutos de economia circular e de fermentação biológica, além de possuírem certificações ECOCERT e Bio-based pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). “Os ingredientes são de origem natural da cana-de-açúcar renovável, cujo cultivo no Brasil não requer irrigação e representa o mais elevado nível de biomassa por hectare dentre todas as fontes de açúcar”, afirma. Além disso, conta a executiva, os resíduos da produção são convertidos em eletricidade para alimentar a planta e a comunidade local, sendo que o processo de fermentação de cana-de-açúcar gera menos gases de efeito estufa em comparação com os similares produzidos a partir de petróleo.
Sintonia com tendências – Na visão da professora Eliane Dornellas, especialista em ciências da vida, os rumos desse mercado já estão traçados. Um mercado em crescimento com mais produtos naturais, veganos, cruelty free e orgânicos. “A tendência para os produtos de higiene pessoal e beleza apontam para um consumo ético, com baixo consumo de água, com produtos ecofriedly, itens que além de não serem testados em animais utilizam matéria prima vegetal”, diz.
As empresas em geral entendem esse movimento e se preparam para atender seus clientes. A Colormix Especialidades é um exemplo. Possui em seu portfólio produtos criados à base de aminoácidos, pela empresa Sino Lion, dos Estados Unidos, matérias-primas do tipo surfactantes, emolientes, condicionadores, emulsionantes e adjuvantes (quelantes, conservantes, antioxidantes e ajustadores de pH), possui também agentes reológicos naturais certificados e matérias-primas da biodiversidade brasileira, tais como manteigas, óleos vegetais e extratos botânicos.
Nos produtos à base de biotecnologia, as matérias-primas são produzidas a partir de insumos vegetais, que resultam em aminoácidos, comuns aos existentes na pele humana (alanina, ácido glutâmico, glicínia), o que dá a elas um caráter amigável, que mimetiza e respeita a pele, explica Alexandre Castro Monteiro, gerente comercial da Colormix. Segundo ele, os agentes reológicos naturais permitem a criação de maquiagens, quando combinados com pigmentos e pérolas naturais, são uma opção para substituição dos polímeros sintéticos do ácido acrílico e podem ser utilizados em ampla faixa de pH.
A sinergia com oportunidades e demandas de mercado não é de hoje, a empresa une antigas e novas soluções para diversificar e oferecer opções. Monteiro ressalta que há 20 anos a linha Eversoft de surfactantes de aminoácidos surgiu no mercado americano – no Brasil há menos tempo – e que ela apresenta diversas opções de tensoativos aniônicos e não iônicos. O gerente acrescenta que a linha de agentes reológicos naturais e certificados da Eckart é mais recente no mercado cosmético e a Colormix Especialidades tem essas opções, que podem ser combinadas para a criação de “muitos produtos, de alta qualidade, que atendem à tendência crescente de produtos verdes”.
“No ano passado, a Sino Lion conseguiu a patente americana e japonesa sobre o processo de criação e produção de tensoativos de aminoácidos, que além de produzir uma matéria-prima considerada química verde, desenvolveu um processo de custo e preço justo, que não polui”, conta.
Portfólio robusto – Além dos tensoativos de aminoácidos, a Colormix Especialidades tem a linha de emolientes naturais da biodiversidade brasileira, formada por óleos e manteigas da região. Neste ano, a empresa apresenta ao mercado uma linha completa de produtos à base de aminoácidos, com destaque para os quelantes, como os que substituem o EDTA, conservante para produtos parabeno free e um super hidratante (ácido poliglutâmico) que garante uma hidratação de forma contínua e prolongada.
Da biodiversidade brasileira, o destaque fica a cargo da manteiga de tucumã, que possui um sensorial leve, com bom deslizamento, indicado para substituir o sensorial de silicone em produtos para o cabelo e o corpo.
Nicho atrativo – A Brenntag enxerga o cosmético orgânico ainda como um nicho no Brasil e um segmento com grande potencial. De acordo com a distribuidora, o consumidor tem se posicionado cada vez mais, exigindo que as marcas de cuidados com a beleza busquem inovações livres da origem e crueldade animal. “O que percebemos é que não necessariamente uma pessoa vegana procure pelos cosméticos orgânicos ou veganos; percebemos que os consumidores se preocupam com meio ambiente, buscando assim produtos sustentáveis e a maior concentração de itens com essa característica de cosmético orgânico/vegano”, explica Norma Clarice Gonçalves, do departamento técnico da empresa.
A empresa já trabalha com algumas tecnologias para o mercado de cosmético orgânico e vegano, como a linha de alcanos vegetais derivados do coco, sendo uma alternativa aos silicones voláteis. “A linha Vegelight é 100% vegetal, com certificação, e proporciona excelentes benefícios a formulações”, diz Norma. Ela ressalta que são produtos de fácil manuseio, doadores de brilho e hidratação para o cabelo e toque seco quando aplicado na pele, entre outros.
“Reforçamos a nossa presença com essa inovação em 2018 e já temos resultados positivos, na qual visualizamos como um grande potencial de negócio”, afirma a executiva. Para 2019, a Brenntag conta com algumas inovações, como o Fermentoil Hair Complex. Trata-se de um blend de óleos vegetais fermentados, capaz de promover hidratação, brilho, maciez e restauração aos fios de cabelo.
De olho nas diferenças entre cosmético orgânico e o natural, a empresa busca novas tecnologias. Norma explica que, na visão da companhia, o consumidor começou a mudar com a introdução de cosméticos naturais e depois viu a necessidade de que além de conter matérias-primas de origem natural o produto precisa associar as questões de cultivo desses ingredientes. “Esse é um nicho com grande espaço para inovação e apostamos nisso, o mercado hoje não contempla protetor solar de origem vegetal e esse é um tema de pesquisa e desenvolvimento na Brenntag”, revela.
Varejo – O consumidor tem encontrado todo tipo de lançamento quando o assunto é cosmético orgânico e vegano. De feiras em que empreendedores menores apresentam suas criações a marcas especializadas no mercado. Exemplo recente vem da linha vegana de oral care livre de parabenos da Ultra Action, da Classy Brands.
A marca oferece escovas dentais com cerdas de carvão vegetal, que, segundo a empresa, são antibacterianas. Os cremes dentais têm fórmula completa com cálcio e flúor ativo, auxiliando na prevenção de cárie de modo eficaz e preservando o esmalte dos dentes. Os antissépticos bucais prometem eliminar 99,9% dos germes, combater a cárie, a placa, o tártaro e deixar o hálito refrescante. Ultra Action se apresenta como uma linha 98% ecológica, não testada em animais, com formulações “sem matérias-primas tóxicas”.
Batons veganos também surgem com destaque. Um deles é da Biozenthi. Com vitamina E, manteiga de karité e pigmentos sem metais pesados, o batom líquido Italian Make tem ação antioxidante, alta consistência e uso seguro para veganas, alérgicas e celíacas. O item conta com pigmentos orgânicos e um dos destaques da formulação, segundo a fabricante, é o uso da cera de carnaúba, um ingrediente obtido da palmeira, que dá consistência e fixação ao batom. A manteiga de karité é rica em ácidos graxos e tocoferóis, por isso é hidratante, emoliente e nutritiva.
Além do mais, juntamente com a vitamina E, exerce ação antioxidante e protetora, explica a empresa.
A Weleda – marca especializada no assunto – lançou recentemente no Brasil, em edição limitada especial de Natal, a linha corporal de amêndoas. Sucesso na Alemanha, Suíça, França e Estados Unidos, foi desenvolvida com óleo de amêndoa doce orgânica e, de acordo com a fabricante, auxilia na recuperação do equilíbrio natural da pele, principalmente a pele sensível, ajudando a evitar irritações.
A nova linha é composta por sabonete líquido cremoso, creme de mãos e loção corporal hidratante, um trio que proporciona hidratação profunda e prolongada graças à combinação exclusiva de ácidos graxos. Assim como os outros cosméticos da marca, os três produtos contêm apenas ingredientes naturais orgânicos certificados, são livres de parabenos e de outros conservantes, corantes e fragrâncias artificiais. Também não contêm derivados do petróleo, como o óleo mineral. Nenhum produto é testado em animal.
Fonte: Redação Revista H&C