Recentemente, o tema “Microbioma da pele humana” tem despertado bastante interesse na comunidade cosmética. Trata-se de um tema multidisciplinar de relativa complexidade, cujo entendimento mínimo poderá, potencialmente, auxiliar-nos a desenvolver cosméticos (especialmente dermocosméticos) de uma maneira bastante diferente do que vimos fazendo. Neste e nos próximos artigos, traremos algumas definições, termos e conceitos relacionados ao “Microbioma da pela humana”.
Na média, a pele representa 16% do peso corporal e uma área de 1,6 m2 na mulher adulta e 1,8 m2 no homem adulto. A pele humana protege o corpo da invasão de patgógenos e mudanças climáticas. Sendo o maior órgão do corpo humano, a pele abriga diversas comunidades microbianas em diferentes locais e nichos únicos. O número de células bacterianas na pele humana é estimado em aproximadamente 1012, um número tão grande que há quem brinque dizendo que a espécie humana deveria ser chamada Homo microbiens. Os microrganismos podem formar interações complexas dentro das comunidades e com o hospedeiro, influenciando na saúde da pele do mesmo. Ocorrências de doenças de pele são frequentemente acompanhadas por alterações na composição, estrutura e função da microbiota da pele. Produtos cosméticos e de higiene pessoal podem influenciar tanto positiva como negativamente nas comunidades microbianas da pele.
A microbiota da pele define todos os microrganismos que vivem na superfície da pele. É determinada desde o nascimento, garante a saúde da pele, sua homeostase e também sua beleza. As comunidades da microbiota da pele contribuem para a defesa imune através de uma variedade de mecanismos. As radiações UV, a poluição e o estresse afetam o equilíbrio da microbiota, levando à disbiose (desequilíbrio de microrganismos) e doenças de pele. A microbiota é uma comunidade ecológica de microrganismos comensais, simbióticos e patogênicos encontrada em todos os organismos multicelulares estudados até hoje, desde plantas até animais. A microbiota da pele é formada por todos os microrganismos hospedados pela pele. É o material genético combinado dos microrganismos em um ambiente particular. Toda a microbiota dentro e sobre uma pessoa pesa de 0,5 a 2 kg (peso úmido). Cada micróbio tem seu próprio material genético e a maioria dos micróbios é inofensiva ou mesmo benéfica para o hospedeiro.
O homem (Homo sapiens) tem aproximadamente 30.000 genes e os simbiontes microbianos do homem têm aproximadamente 15.000.000 de genes. O microbioma humano refere-se aos genomas da microbiota humana e inclui principalmente bactérias, eucariotos e vírus. Na pele, trata-se de um ecossistema com 1000 bilhões de bactérias (até 10 milhões de bactérias / cm² de pele), de pelo menos 19 filos diferentes, 3 principais gêneros e mais de 500 espécies diferentes.
A superfície da pele de um recém-nascido é colonizada por microrganismos imediatamente após o nascimento. A maioria dos microrganismos colonizados são comensais e adquirem nutrientes das secreções da pele, definindo uma ligação íntima entre crescimento microbiano e estado fisiológico da pele. A pele humana forma um dinâmico ecossistema, com microrganismos residentes em um microambiente único em cada local. Os microambientes na pele variam em grande parte entre os indivíduos e dentro dos indivíduos porque as bases estruturais alteram consideravelmente sob diferentes condições. Por exemplo, a diversidade genética resulta em indivíduos com diferenças na estrutura da pele, diferentes sites da pele dentro de cada indivíduo exibem características distintas em suas estruturas, a espessura da pele varia significativamente nas pálpebras, nas palmas das mãos e nas solas dos pés, a estrutura da pele altera durante o desenvolvimento e envelhecimento do indivíduo (por exemplo, durante a puberdade, mais glândulas apócrinas ativas aparecem na pele e tornam a área axilar mais úmida), etc. Em resumo, múltiplos fatores influenciam o microambiente em cada local da pele, o que por sua vez influencia a comunidade microbiana em sua estrutura e função.
A relação entre os microrganismos e o hospedeiro é descrita como uma simbiose mutualista. No entanto, alguns microrganismos podem colonizar uma área não típica da pele, como a derme, geralmente em indivíduos imunocomprometidos e “especula-se” que uma pele com microbioma alterado está associada e propensa a se tornar uma pele doente.
No próximo artigo, detalharemos um pouco mais sobre este interessante tema até relacioná-lo ao desenvolvimento de cosméticos específicos.