Hoje muito se fala sobre o produto ideal que tenha a embalagem perfeita do ponto de vista da cadeia em sua plenitude: da obtenção da matéria prima até o reuso dessas embalagens. Elas tem a missão de conter, proteger, transportar e vender. Mas no fundo esse contexto traz uma complexidade maior que a beleza mostrada nas prateleiras dos mercados, nos catálogos das representantes ou nas páginas do varejo digital.
Importante pensar e implementar modelos de trabalho e formas de atuação nas corporações onde o conceito, a prática e a comunicação criam ou reforçam o propósito corporativo da empresa. No fundo, o ponto crucial é entender e viver o quanto o propósito está realmente ligado ao que se está comunicando e sendo colocado à disposição do consumidor nos diferentes canais de venda.
Uma das formas que pode ser utilizada para se comprovar que discurso e prática estão seguindo no mesmo sentido é ligar os cinco Rs da sustentabilidade ao desenvolvimento de produtos e de embalagens. O quanto nos processos de criação de um novo produto ou otimização de algum outro existente se repensa, se recusa, se reduz, se reutiliza (ou se permite uma posterior reutilização) ou se permite a reciclabilidade da embalagem do produto.
Quando se repensa, o foco é refletir sobre os hábitos de consumo e de descarte de materiais que o público alvo pratica e, mais que isso, do público geral que de alguma forma terá interação com o produto que está sendo criado. Reflexões sobre os impactos futuros na cadeia, tanto na obtenção quanto no descarte e a escolha consciente de materiais recicláveis e sempre que possíveis reutilizáveis devem fazer parte dessa fase. Para evitar exageros e compras desnecessárias, que geram a imobilização de capital da companhia, uma das perguntas a serem feitas nessa etapa é o que a empresa realmente precisa e quer com esse produto ou embalagem. Bem como saber do que a embalagem é feita, de onde a matéria-prima para sua fabricação é obtida e quais os impactos gerados na cadeia durante esse processo. Se a origem desses insumos é renovável ou não-renovável e a real pegada ambiental quando se pensa na emissão de particulados, dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa no ambiente. A organização tem uma grande vantagem em obter seus insumos de fornecedores que tem práticas sustentáveis e que de preferência tenham em seu DNA propósitos que sejam aderentes aos da empresa que essa embalagem ou produto final irão representar.
Tão importante quanto saber do que a embalagem ou matéria prima é feita, é saber se quem a faz ou extrai a matéria-prima do meio ambiente é idôneo e não possui em seu histórico e nem em seu dia à dia praticas que não estejam adeptas àquelas que a sociedade atual e futura consideram como básicas, como por exemplo a preocupação com as leis ambientais e cumprimento das leis trabalhistas.
Recusar toda a matéria prima ou produto que tenha impactos ambientais significativos e que não agridam o meio ambiente ou os ecossistemas nos quais ele convive durante o seu ciclo de vida. Recusar pode ser uma grande alavanca tecnológica pois incentiva a cadeia a buscar e desenvolver tecnologias que alavanquem seus processos e seus produtos a terem composições que sejam cada vez menos agressivas ao meio ambiente. Geralmente, empresas que obtêm certificações de normas e selos acreditados como FSC, ISO 14001 e outros do gênero tem uma vantagem competitiva no tocante a esse R.
Reduzir é o terceiro R a ser avaliado no momento em que a concepção e criação é discutida. Em teoria, quanto mais reduzimos o consumo, mais o desperdício e a geração de resíduos são reduzidos. Aqui uma análise das etapas da cadeia e do ciclo de vida do produto deve ser cuidadosamente tomada e as medidas para se melhorar a eficiência e reduzir perdas no processo devem ser implementadas de forma eficaz, para que sejam efetivas logo no primeiro momento. A Política Nacional de Resíduos Sólidos preconiza a redução como sua segunda prioridade na ordem de gerenciamento de resíduos, sendo que a primeira é priorizar a não geração de resíduos.
Reutilizar vem como o quarto R, pois existem muitos resíduos que são descartados, mas de alguma forma poderiam ser reutilizados de diferentes maneiras. Então a reflexão que fica é de como poderia ser desenvolvida uma embalagem que pudesse ao invés de ser descartada ser reutilizada de alguma forma, seja ela direta ou indireta. Seja ela para conter ou transportar outros produtos ou mesmo para alguma utilização de forma lúdica ou educacional. Esse tema nunca deve ser deixado de lado ou desconsiderado.
Por último, mas não menos importante, o ato de reciclar deve ser o procedimento final a ser utilizado pelas empresas. Após repensar ao máximo a quantidade, qualidade e origem de insumos utilizados, recusar todo aquele que não tem aderência ao propósito do produto e a imagem da empresa, reduzir as quantidades de insumos e matérias primas e ter claro o propósito da reutilização, a reciclagem deve cumprir seu papel conceitual e prático. Da concepção do produto ou embalagem, que é transformar os materiais que podem voltar ao seu estado original ou serem transformados em outros produtos, que terão uma nova vida útil ou função específica na cadeia de valor, ou no ciclo de vida de um novo produto.
Assim, é possível criar uma embalagem e um produto de sucesso baseado nos cinco Rs da sustentabilidade. Ao aderir a esse conceito, além da inovação propriamente dita, essa criação trará vantagens como redução do acúmulo de resíduos e consumo de energia. Também evitará agressões ao solo, água e ar, e além de outros benefícios já mencionados nesse texto, auxiliará fortemente na formação de uma nova cultura de consumo e por consequência a alteração de hábitos no modo de trabalho das corporações. Mas isso somente será possível se o comprometimento para lidar com todos os desafios que uma transformação conceitual traz para que se atinja o equilíbrio ambiental, seja incorporado por parte da liderança e também no propósito das companhias que olham para o futuro e pensam em sua longevidade e no legado que deixarão para as próximas gerações.
Por, Rodrigo Madalosso Wielecosseles é engenheiro químico e especialista em desenvolvimento de embalagens.
Fonte: Revista H&C