Um samba enredo da escola de samba União da Ilha do Governador de 1978 escrito por João Sérgio dizia: ‘Como será o amanhã, responda quem puder…’. Teria sido ele um presságio para os tempos que hoje estamos vivendo? Provável que não, pois aqueles também eram tempos nebulosos e vividos em outro contexto.
No momento atual temos a certeza de que as coisas serão diferentes, desde um simples aperto de mão e abraço até os hábitos e comportamentos das pessoas em relação à vida cotidiana e, obviamente, em relação ao consumo. Outro fato é que um novo futuro está se desenhando por si e pelos hábitos que estão sendo forjados durante esse período de confinamento. Precisamos ter clareza de como a digitalização irá afetar a visibilidade dos produtos, seja off-line ou on-line.
Nesse novo contexto a embalagem deve ser facilmente notada e estar acima da percepção do consumidor sobre a concorrência pois de outra maneira ele optará por produtos que se distingam dos demais ou que ele não leve tanto tempo para entender. A permanência nas lojas já está reduzida e o “olhar com as mãos” censurado. Quanto menos ele for confundido pelas informações constantes na embalagem de seu produto e quanto mais direta essa comunicação for, mais vantagens esse produto terá sobre seus concorrentes. Ser claro no que se quer comunicar é uma dica primordial para que o produto tenha sucesso nesse novo normal, pós COVID-19.
A embalagem deverá destacar o produto em meio à multidão de concorrentes e por vezes similares, seja na gôndola ou em um website. Um design único e exclusivo de embalagem auxiliará nesse destaque e facilitará o trabalho do consumidor no momento de lembrar e de recomendar seu produto. É sabido que leva tempo e esforço para se chegar num design de embalagem de sucesso e que realmente se destaque frente aos demais e que se torne um ícone no mercado. Mas não necessariamente estou falando de algo extremamente complexo e sim em despertar a criatividade e pensar além do óbvio para que se chegue no que seria o mais aderente ao novo mundo e a nova atmosfera que viveremos passada essa situação.
Num novo contexto também será necessário além de conhecer e entender o consumidor, saber como ajudá-lo e o foco será influenciar no momento em que ele comece a se engajar com o produto através da sua embalagem. A decoração e a comunicação visual da embalagem devem provocar o desejo dele em relação ao produto. A adição no painel frontal de imagens do produto indica ao consumidor o que ele deve esperar em termos de aspecto e experiência. Ainda, a harmonia entre essa comunicação visual, imagens do produto e código de cores pode, de alguma forma, influenciar o consumidor na chamada ‘regra dos dois segundos’ que é o tempo que ele leva para decidir, influenciado pela sua intuição, se irá adquirir ou não o produto que está tendo essa interação física, ou como provavelmente será no novo normal, virtual.
Assim, é necessário que a escolha de uma embalagem que além de chamar a atenção e despertar o interesse do consumidor tenha um alto padrão sanitário e ao mesmo tempo seja fácil de usar.
Um último tema que vale pontuar nesse artigo é como o consumidor irá ter a clara noção de estar comprando um produto do tamanho que ele espera. Se por exemplo ele quer um frasco de um shampoo 250 ml ele não irá aceitar receber um de 100 ml, mesmo pagando pelo conteúdo do tamanho que ele receberá. Assim, a comunicação a ser empregada no site deve diferenciar os tamanhos e proporções dos produtos. Uma forma de conseguir sucesso nessa diferenciação entre produtos similares é através de cores, formatos ou fontes que comuniquem seus tamanhos com clareza. É sabido que por legislação, a informação de volume de produto deve ser comunicada no painel frontal da embalagem. Mas como alguns consumidores podem ser mais impacientes e não querer perder tempo lendo as pequenas letras, vale atentar à essa dica.
Mesmo que tenhamos um ambiente de consumo completamente novo e diferente do que estamos acostumados o consumidor continua sendo um ser humano e seguirá possuindo uma atenção limitada a maioria dos detalhes aqui levantados. A mente humana não se adapta ao novo tão rápido quanto a tecnologia. Como a embalagem tem seus poucos segundos de influência e atração, vale atentar que em uma tela de celular isso será ainda mais desafiador. Em relação aos produtos que consumimos, o que desejamos no mundo físico não é muito diferente do que desejamos no mundo virtual e esses mundos são espelhos um do outro. Tenha em conta que o novo normal será novo para todos e que isso será um desafio tanto para as empresas quanto para os consumidores. Não podemos deixar de ter em mente que o encantamento do consumidor com nossos produtos através das embalagens será crucial para a continuidade dos negócios e satisfação dos consumidores.
Por Rodrigo Madalosso Wielecosseles, engenheiro químico e especialista em desenvolvimento de embalagens.
Fonte: Revista H&C